terça-feira, dezembro 19, 2006

A Oitava Voz - Filosofia

A Sétima Voz - Charlie Brown e Patty


"- O que você acha que é o amor, Minduim?
- Bem, há alguns anos meu pai tinha um Sedã preto 1934 de duas portas...
- Mas o que isso tem a ver com o amor?
- Espera, deixa eu falar o que ele me disse! Havia uma garota muito bonita, sabe? Ela costumava pegar carona com ele. Sempre que ele a convidava ele abria a porta do carro pra ela, depois que ela entrava ele fechava a porta. Depois ele passava por trás do carro e ia pra porta do motorista, mas antes dele chegar lá, ela esticava o braço e trancava a porta, deixando ele pra fora. Depois ela ficava ali fazendo muitas caretas e sorrindo. Isso que eu acho que é o amor!
- As vezes eu me preocupo com você, Minduim! "


(Imagem encontrada através do www.google.com.br)

sábado, dezembro 16, 2006

A Sexta Voz - Soneto de Casamento


De um beijo roubado em plena rua
Nossa história, de início, aconteceu
Eu nem sabia e já era tua
Tu nem sonhavas, e já eras meu

Nós fomos construindo pouco a pouco
Durante todo o tempo então vivido
Esse tão nobre amor, que é quase louco
Viver sozinho já não faz sentido

E hoje, chega a nossa grande hora
Amo-te como nunca! E mais agora!
E tu me amas e somente a mim!

Brindemos nosso amor, o nosso ninho
Criado com ternura e com carinho
À nós e nossa vida a dois, enfim!

- Emmanuelle Vasconcelos -
(Imagem encontrada através do www.google.com.br)

sexta-feira, dezembro 15, 2006

A Quinta Voz - Reinício ou queda


E volto aos dias em que tudo era possível...
em que dormir era desperdício
e acordar um reinício

Reinicio a batalha contra o vício
me ponho contra meu perdido hábito de sonhar

Não diga nada
Vou voar durante a queda!
Respirar um ar sem flor
e me afogar num mar celeste

Naqueles dias em que tudo era possível...
em que dormir não era alívio
e acordar não era dor
não reconheço minha imagem no espelho
o meu reflexo nele, tinha cor

Mas calo...
assisto...
esperando um reinício
caindo de um precipício
descobrindo quem eu sou

- Anna Emíllia Meira Soares -

segunda-feira, dezembro 04, 2006

A Quarta Voz - Redenção


Composição: J. E P. Garfunkel

Ficou difícil
Tudo aquilo, nada disso
Sobrou meu velho vício de sonhar

Pular de precipício em precipício
Ossos do ofício
Pagar pra ver o invisível
E depois enxergar

Que é uma pena
Mas você não vale a pena
Não vale uma fisgada dessa dor
Não cabe como rima de um poema
De tão pequeno

Mas vai e vem e envenena
E me condena ao rancor
De repente, cai o nível
E eu me sinto uma imbecil
Repetindo, repetindo, repetindo
Como num disco riscado
O velho texto batido
Dos amantes mal-amados
Dos amores mal-vividos
E o terror de ser deixada
Cutucando, relembrando, reabrindo
A mesma velha ferida

E é pra não ter recaída
Que não me deixo esquecer
Que é uma pena
Mas você não vale a pena

A Terceira Voz - Bem e Mal - Contradição


Bem... assim é vc...

um mundo de contradições
refletidas no espelho,
em minhas crises e anseios...
alguém que eu quero envolvido
mas procuro esquecer
alguém que eu tento encontrar
e nunca quer me ver
alguém de quem preciso,
mas não quero mais...

alguém...
vc...
alguém...

mas não quero mais...
alguém de quem preciso,
e nunca quer me ver
alguém que tento encontrar
mas procuro esquecer
alguém que quero envolvido
em minha crises e anseios...
refletidas no espelho,
um mundo de contradições

Bem... assim é vc...

Assim quis vc...

- Anna Emíllia Meira Soares -

terça-feira, novembro 28, 2006

A Segunda Voz - O poeta fala por ela


Composição: Antonio Carlos Jobim / Aloysio de Oliveira

É, só eu sei
Quanto amor eu guardei
Sem saber que era só prá você

É, só tinha de ser com você
Havia de ser prá você
Senão era mais uma dor
Senão não seria o amor
Aquele que a gente não vê
O amor que chegou para dar
O que ninguém deu pra você

É, você que é feita de azul
Me deixa morar nesse azul
Me deixa encontrar minha paz
Você que é bonita demais

Se ao menos pudesse saber
Que eu sempre fui só de você
Você sempre foi só de mim

Que eu sempre fui só de você
Você sempre foi só de mim

domingo, novembro 19, 2006

A Primeira Voz - melodia em tom menor


Me refugio em um sono cansado
em um sonho pesado...
em olhos de dor,
em cartas de amor...
Declarações de ódio...
são flores de ópio...

Papoulas azuis...

Poetizando o Blues and Jazz,
ouvinte, soante, cantante,
Eis o acorde brilhante
de um mar sem fim.
Sonho em meu sono pesado,
um sonho cansado
de dor e de amor...

A alma a janelar o abismo
num canto infinito
sem luz, a se pôr...
Abre a porta dos armários
onde estão guardados
Arco-íris sem cor...

E nasce o sol de mais um dia.
Não me levanto,
não me olho no espelho...

é inútil...

Mas na fotografia, o sol se põe...
sem rima...

- Anna Emíllia Meira Soares -

sábado, novembro 18, 2006

Vozes em minha cidade


É... dizem que um blog serve como uma espécie de diário... mas eu tenho tanta preguiça! É mais fácil aplicar o velho CRTL+C/CRTL+V... bem mais rápido e menos comprometedor...
Pra quem gosta de adrenalina, ficar na madrugada de sábado pra domingo, sem fazer nada, em casa, na frente do PC... Isso sim é perigoso! Gera reflexões, que levam a conflitos existenciais! Bem melhor é manter os olhos fechados para algumas coisas que estão ocultas para o nosso bem... Mas quem liga?
É meu problema...
Eu reflito, eu penso...
eu canto...
sofro... crio... ouço...
mando recados para meus amigos no orkut...
pentelho todo mundo no msn...
mas às vezes me canso...
desenho... poetizo...
E me arrisco a escrever...
Estivesse em meio a Brumas o teclado seria o de um piano, onde me acostumei a afogar minhas mágoas e crises... e tb realçar momentos de felicidade acrescentando a eles uma trilha sonora só minha...
Mas estou em meio a mares... oceanos navegados por minha alma... e às vezes visitados tb pelo meu corpo...
Ouço vozes... vozes em minha cidade... uma cidade onde me criei, que criei e que me criou... mas cuja história ainda está sendo escrita, como versos de uma pena sem tinta. Uma pena guiada pela intuição.
A minha intuição. A minha voz. O meu silêncio.
E que as vozes que entoam cânticos em minha cidade, comecem a ter hora e vez.


- Anna Emíllia Meira Soares -

A lua me chama, eu tenho que ir pra rua... Hoje eu quero sair só...


De você sei quase nada
Pra onde vai ou porque veio
Nem mesmo sei
Qual é a parte da tua estrada
No meu caminho

Será um atalho
Ou um desvio
Um rio raso
Um passo em falso
Um prato fundo
Pra toda fome
Que há no mundo

Noite alta que revele
Um passeio pela pele
Dia claro madrugada
De nós dois não sei mais nada

Se tudo passa como se explica
O amor que fica nessa parada
Amor chega sem dar aviso
Não é preciso saber mais nada

De você sei quase nada
Pra onde vai ou porque veio
Nem mesmo sei
Qual é a parte da tua estrada
No meu caminho

- Zeca Baleiro -

quinta-feira, novembro 16, 2006

Amanheci com um poeta... e agora...

Quando a gente conversa, contando casos, besteiras
Tanta coisa em comum...
Deixando escapar segredos...
E eu não sei que hora dizer, me dá um medo, que medo
E até o tempo passa arrastado, só pra eu ficar do teu lado.
Você me chora dores de outro amor,
se abre e acaba comigo...

Eu já nem sei se eu tô misturando!
Eu perco o sono,
lembrando cada riso teu,
qualquer bandeira...
Fechando e abrindo a geladeira
A noite inteira...
É que eu preciso dizer que eu te amo...
Tanto...
- Dé, Bebel e Cazuza -

quarta-feira, novembro 15, 2006

Escrever


Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
e as estrelas lá no céu
lembram letras no papel,
quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

- Paulo Leminsky -

Poesia Roubada...


Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

Tudo no mundo é frágil, tudo passa...
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, vivo de rastros:
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!..."

- Florbela Espanca -

Amar o perdido coração...


Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

- Carlos Drummond de Andrade -

segunda-feira, novembro 13, 2006

Infância





"Era uma vez que tinha um velho, que tinha uma velha, que tinha uma casa, dentro da casa tinha uma forquilha, em cima da forquilha tinha uma cama, embaixo da cama tinha um rato, atrás do rato vinha um gato, o rato correu, o gato miou, a cama caiu, a forquilha quebrou e a velhinha falou: Ai, meu veínho, minha costela machucou!"
- Todas as Vozes reproduz história -

domingo, novembro 12, 2006

Miedo


(...)
El miedo es una sombra que el temor no esquiva
El miedo es una trampa que atrapó al amor
El miedo es la palanca que apagó la vida
El miedo es una grieta que agrandó el dolor
(...)

O medo é uma linha que separa o mundo
O medo é uma casa aonde ninguém vai
O medo é como um laço que se aperta em nós
O medo é uma força que não me deixa andar

(...)


Medo de se achar sozinho
De perder a rédea, a pose e o prumo
Medo de pedir arrego,
medo de vagar sem rumo

Medo estampado na cara ou escondido no porão
O medo circulando nas veias
Ou em rota de colisão
O medo é do Deus ou do demo
É ordem ou é confusão
O medo é medonho, o medo domina
O medo é a medida da indecisão
(...)

Medo de calar a boca, medo de escutar
Medo de fazer de conta, medo de dormir
(...)

Medo de se arrepender, medo de deixar por fazer
Medo de se amargurar pelo que não se fez
Medo de perder a vez
Medo de fugir da raia na hora H
Medo de morrer na praia depois de beber o mar

Medo... que dá medo do medo que dá
Miedo... que da miedo del miedo que da

Grão de Fé, Grão de Chão, Grão de Esperança, Grão de Feijão...



Grão de Amor...

Me deixe, sim
Mas só se for
pra ir alí
E pra voltar

Me deixe, sim
Meu grão de amor
Mas nunca deixe
de me amar

Agora, as noites são tão longas
No escuro eu penso em te encontrar
Me deixe, só até a hora de voltar

Me esqueça, sim
Pra não sofrer,
Pra não chorar,
Pra não sentir

Me esqueça, sim
Que eu quero ver
Você tentar
Sem conseguir

A cama agora está tão fria
Ainda sinto o seu calor
Me esqueça, sim
Mas nunca esqueça o meu amor

É só você que vem
No meu cantar, meu bem
É só pensar que vem
Lararara...

Me cobre mil telefonemas
Depois, me cubra de paixão
Me pegue bem
Misture alma e coração

Me deixe, sim
Mas só se for pra ir alí
E pra voltar
Me deixe, sim
Meu grão de amor
Mas nunca deixe de me amar

Agora, as noites são tão longas
No escuro eu penso em te encontrar
Me deixe, só até a hora de voltar

Paciência


Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
A vida não para

Enquanto o tempo acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora vou na valsa
A vida é tão rara

Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência

O mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência

Será que é o tempo que lhe falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara! Tão rara...

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para...
a vida não para não

Será que é tempo que me falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber?
A vida é tão rara, tão rara!

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não rara...
a vida não para não...

- Lenine -

sábado, novembro 11, 2006

Pai-Nosso


**********************************************
Ó Fonte de manifestação! Pai-mãe do cosmo!
Focaliza a tua luz dentro de nós tornando-a util.
Que teu desejo uno atue com os nossos,
assim como em toda luz e em todas as formas.
Dá-nos o que precisamos cada dia
em pão e percepção.
Desfaz os laços dos erros que nos prendem,
assim como nós soltamos as amarras
que mantemos da culpa dos outros.
Não deixe que coisas superficiais nos iludam,
mas liberta-nos de tudo o que nos aprisiona.
De Ti nasce a vontade que tudo governa.
O poder e a força viva da ação.
A melodia que tudo embeleza,
e de idade a idade tudo renova.
********************************************

Antes de Dormir... Nem bem acordo...




Nem bem acordo
Já espio seu retrato
Faço um trato com o espelho
Hoje eu não quero sentir dor
Hora do almoço
falo teu nome
Santo nome em vão
O que consome
Meu corpo moço
Fome ou solidão
Não quero nada
Essa estrada
eu já sei aonde vai dar
Vai dar em nada,
não quero ir, nem voltar
Cinco da tarde
Tudo arde
Coração e céu
Fico com ar de
Quem espera
Um aceno um sinal
Já é noite alta
Não sinto sono
Não te esqueço mais
Viro do avesso
Adormeço
Cansada de mim sem paz
Hoje eu não quero dor
Hoje eu não quero flor
Não quero nada
Que rime com o amor

- Zeca Baleiro -


Sim, amor... quase um ano...
e essa é a nossa cara...
Não quero nada que me lembre sua dor...
mas ela permanece viva em mim...
e apesar de não haver nada que rime com o nosso amor
impossível negar: seu olhar ainda me acompanha...
Incondicional...

Aprendi a amar sem te ter...
mas como dói...

Saudade...

- Anna Emíllia Meira Soares -

A Perfeição



O que me tranqüiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.

O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.

Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.

O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.

Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.

- Clarice Lispector-

sexta-feira, novembro 10, 2006

Serenata


Repara na canção tardia
que timidamente se eleva,
num arrulho de fonte fria.

O orvalho treme sobre a treva
e o sonho da noite procura
a voz que o vento abraça e leva.

Repara na canção tardia
que oferece a um mundo desfeito
sua flor de melancolia.

É tão triste, mas tão perfeito,
o movimento em que murmura,
como o do coração no peito.

Repara na canção tardia
que por sobre o teu nome, apenas,
desenha a sua melodia.

E nessas letras tão pequenas
o universo inteiro perdura.
E o tempo suspira na altura

por eternidades serenas.
- Cecília Meireles -

Presente de uma amiga...



De Alto Cedro voy para Macané
Llego al Cueto, voy para Mayarí

El cariño que te tengo
No te lo puedo negar
Se me sale la babita
Yo no lo puedo evitar

Cuando Juanita y Chan Chan
En el mar cernían arena
Cómo sacudía el 'jibe'
A Chan Chan le daba pena

Limpia el camino de paja
Que yo me quiero sentar
En aquel tronco que veo
Y así no puedo llegar

De Alto Cedro voy para Macané
Llego a Cueto voy para Mayarí

quinta-feira, novembro 09, 2006

A Duas Flores


São suas flores unidas
são duas rosas nascidas
talvez no mesmo arrebol
vivendo no mesmo galho
da mesma gota de orvalho
do mesmo raio de sol.

Unidas, bem como as penas
das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
como a tribo de andorinhas
de tarde no frouxo véu.

Unidas, bem como os prantos,
que em parelha descem tantos
das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
como as covinhas do rosto,
como as estrelas do mar.

Unidas... Ai quem pudera
numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
na rama verde e florida,
na verde rama do amor!

- Castro Alves -

As acerolas eram rubis refletindo em seu olhar perdido e distante...




Na verdade a poesia simplesmente vem...
Como uma coceirinha que não sossega enquanto você não a coça,
a poesia fica na ponta da língua, na ponta dos dedos...
e não lhe deixa em paz até você colocá-la pra fora...

E os poemas depressivos são como as músicas em tom menor...
sempre mais bonitos...

- Anna Emíllia Meira Soares -

Nudez...


Não cantarei amores que não tenho,
e, quando tive, nunca celebrei.
Não cantarei o riso que não rira
e que, se risse, ofertaria a pobres.

Minha matéria é o nada.
Jamais ousei cantar algo de vida:
se o canto sai da boca ensimesmada,
é porque a brisa o trouxe, e o leva a brisa,
nem sabe a planta o vento que a visita.

Ou sabe? Algo de nós acaso se transmite,
mas tão disperso, e vago, tão estranho,
que, se regressa a mim que o apascentava,
o ouro suposto é nele cobre e estanho,
estanho e cobre,
e o que não é maleável deixa de ser nobre,
nem era amor aquilo que se amava.

Nem era dor aquilo que doía;
ou dói, agora, quando já se foi?
Que dor se sabe dor, e não se extingue?
(Não cantarei o mar: que ele se vinguede meu silêncio, nesta concha.)
Que sentimento vive, e já prospera
cavando em nós a terra necessária
para se sepultar à moda austera
de quem vive sua morte ?
Não cantarei o morto: é o próprio canto.
E já não sei do espanto,
da úmida assombração que vem do norte
e vai do sul, e, quatro, aos quatro ventos,
ajusta em mim seu terno de lamentos.
Não canto, pois não sei e toda sílaba
acaso reunida
a sua irmã, em serpes irritadas vejo as duas.

Amador de serpentes, minha vida
passarei, sobre a relva debruçado,
a ver a linha curva que se estende,
ou se contrai e atrai,
além da pobre área de luz de nossa geometria.
Estanho, estanho e cobre,
tais meus pecados, quanto mais fugido que enfim capturei,
não mais visando aos alvos imortais.

Ó descobrimento retardado pela força de ver.
Ó encontro de mim, no meu silêncio,
configurado, repleto,
numa casta expressão de temor que se despede.
O golfo mais dourado me circunda
com apenas cerrar-se uma janela.
E já não brinco a luz.
E dou notícia estrita do que dorme,
sob placa de estanho, sonho informe,
um lembrar de raízes, ainda menos,um calar de serenos
desidratados sublimes ossuáriossem ossos;
a morte sem os mortos;
a perfeita anulação do tempo em tempos vários,
essa nudez, enfim, além dos corpos,
a modelar campinas no vazio da alma,
que é apenas alma, e se dissolve .

( Carlos Drummond de Andrade - Antologia Poética, 1982)

Canto de uma alma sem voz... O Gondoleiro do Amor


Teus olhos são negros, negros,
como as noites sem luar...
São ardentes, são profundos
Como o negrume do mar;

Sobre o barco dos amores,
da vida boiando à flor,
douram teus olhos a fronte
Do Gondoleiro do amor.

Tua voz é cavatina
Dos palácios de Sorrento,
Quando a praia beija a vaga
Quando a vaga beija o vento.

E como em noites de Itália
Ama um canto o pescador,
Bebe a harmonia em teus cantos
O Gondoleiro do amor (...)

Castro Alves continua... mas não agora, não aqui...

- Anna Emíllia Meira Soares -

terça-feira, novembro 07, 2006

Hoje vamos de Cecília


Meus poemas são todos ridículos, assim como é condição intrínseca de todos os poemas serem assim. Quem me dera um anjo me inspirasse a escrever... escreveria poesia sobre a vida... tão vazia de poesia...
Mas nenhum anjo me inspira....
E tudo que posso fazer é ler as ridicularidades poéticas alheias que tanto me tocam a alma mesmo não sendo meus... e que mesmo não sendo meus, e talvez por isso mesmo, são tão belos...
E hoje vamos de Cecília...




Canção

Há uma canção que já não fala,
que se recolhe dolorida.
Onde, o lábio para cantá-la?
Onde, o tempo de ser ouvida?

Quando alguém passa e ainda murmura,
abro os olhos, quase assustada.
A voz humana é absurda, obscura,
sem força para dizer nada.

Qual será sobre a nossa poeira,
o lugar dessa flor secreta,
- da frágil canção derradeira
murcha no silêncio do poeta?

(...)




... a última estrofe julguei supérflua
e deletei dos meus anais...

... afinal de contas seres de alma errante também escolhem onde querem pousar
e entendam como quiserem...


- Anna Emíllia Meira Soares -