terça-feira, junho 09, 2009

129ª Voz - Jeito de Mato


De onde é que vem esses olhos tão tristes?
Vêm da campina onde o sol se deita
Do regalo de terra que o teu dorso ajeita
E dorme serena, no sereno sonha

De onde é que salta essa voz tão risonha?
Da chuva que teima, mas o céu rejeita
Do mato, do medo, da perda tristonha
Mas, que o sol resgata, arde e deleita

Há uma estrada de pedra que passa na fazenda
É teu destino, é tua senda, onde nascem com as canções
As tempestades do tempo que marcam tua história
Fogo que queima na memória e acende os corações

Sim, dos teus pés na terra nascem flores
A tua voz macia aplaca as dores
E espalha cores vivas pelo ar

Sim, dos teus olhos saem cachoeiras
Sete lagoas, mel e brincadeiras
Espumas ondas, águas do teu mar

- Paula Fernandes e Maurício Santini-

domingo, junho 07, 2009

128ª Voz - Sim... eu ando de ônibus!



Sim... eu ando de ônibus! Se por um lado é ruim vc ter que ficar esperando no ponto, viajar com pessoas saindo pela janela, ir parando de 5 em 5 minutos pra pegar mais gente, por outro lado passar o tempo observando as atrocidades-amenidades-curiosidades e afins, não tem preço!

Existem algumas situações comuns em qualquer coletivo. Vira e mexe entra alguém vendendo jujubas (Uma é trinta, duas é cinquenta, quatro um real) ou então "amendoim dourado" (o nome da 'bagaça' é Mendorato), balinhas de gengibre e garrafadas que prometem curar até câncer ('se vc tem frieira, dor nas articulação, gota, ou menstruação atrasada, experimente! Cura até câncer, pessoal!' - temos que patentear essa 'miséra'!) . Algumas vezes somos presenteados com algum artista que canta e toca seu instrumento encurtando o tempo da viagem, como o famoso ceguinho com sua sanfona tocando músicas de Luís Gonzaga.

Essa semana, no entanto, aconteceu uma coisa inusitada. Estava eu, indo da Calçada para a Pituba, quando passou o Pituba-Alto de Coutos, número 1634 se não me engano. Entrei no ônibus, e uma madame com ares de perua estava saltando pelo fundo. Até aí tudo bem. Na hora que eu passei pela catraca o cobrador diz pra mim com cara de surpresa:"É a primeira vez que eu vejo alguém descer do ônibus porque não tem lugar para sentar!". Realmente... nem todos tem vocação para andar em lata de sardinha, até me solidarizei com a pobre perua, entrei, sentei (sim, havia lugar para sentar no bendito ônibus, que por sinal estava vazio para os padrões normais, e então entendi o comentário e a surpresa do 'cobra' diante da atitude da dita perua) ,e tirei da minha bolsa um pacotinho de chicletes para me distrair na viagem. Ao passar pela Feira de São Joaquim, o diacho do busu pára, e o cobrador desce. Sim, o cobrador desceu para trocar moedas na feira de São Joaquim... até aí, tudo bem também, pois eles costumam fazer isso de vez em quando. Nesse momento, as pessoas começaram a subir no Ônibus, para passar pela catraca, e o motorista, coitado, começou a gritar: "Espera aí pra poder passar, que o cobrador foi trocar dinheiro!". As pessoas, obedientes e honestas, realmente ficaram ali, paradinhas, esperando que o bendito 'cobra' aparecesse para cobrar suas passagens ou passar o tal do Salvador Card.

Continuei mascando meu chicletinho, calma, tranquila, com a mente viajando pelas pessoas que passavam com sacolas repletas de verduras, carregadores com caixas de suprimentos e mercadorias nas cabeças ou em carrinhos de mão... e nessa contemplação permaneci por cerca de 15 minutos. Sim! 15 minutos, pessoal! Então me dei conta de que havia algo errado, quando ouvi o grito de um dos passageiros: "CADÊ O COBRADOR, MOTÔ????"

Já havia se passado cerca de 15 minutos, e nós ali, parados, esperando o cobrador voltar com o dinheiro trocado! Diante do grito do passageiro, começou o rebuliço, claro!

"Arranca, motô! Larga ele aí!"
"A gente tem horário!"
"Esse cobrador tá é tomando uma em alguma barraca"
"Ele encontrou alguma nega, resolveu dar uma rapidinha e morreu! Vamo embora, motô!"

O pobre do motorista lá, tentando contornar a situação. Os passageiros começando a se exaltar, e ele desesperado pedindo calma. Até que num dado momento, nem ele mesmo aguentou e começou a xingar o cobrador de todos os nomes possíveis e imagináveis que eu não tenho coragem de repetir.

A essa altura estávamos ali, parados há cerca de 30 minutos. Ele não aguentou e desceu do ônibus! Isso mesmo, pessoal! O ônibus ficou sem cobrador e sem motorista, em plena Feira de São Joaquim, com um monte de passageiros exaltados dentro. Uns 10 minutos depois o motorista volta, sem notícias do cobrador, decidido a colocar o destino do ônibus como "GARAGEM", e seguir viagem sem ele mesmo. Nesse momento, ouve-se o grito de um dos passageiros: "Olha lá o filho de uma puta!!!"

E lá vinha ele mesmo! Todo matreiro, folgado, com um saquinho de moedas trocadas na mão esquerda, enquanto na outra trazia uma sacolinha com biscoitos de polvilho... Veio andando, devagar, lentamente, como se deixar um ônibus cheio de passageiros parado em plena Feira de São Joaquim, esperando por nada menos que 45 minutos fosse a coisa mais natural do mundo. E entrou no ônibus, diante de umas 30 pessoas perplexas e de queixo caído, que nem ao menos reação de vaiar o dito cujo tiveram...

E o motorista arrancou o ônibus, e seguiu viagem mais perplexo ainda...

Coisas dessa minha cidade de São Salvador...

Moral da história: Quando alguém desce do ônibus vazio por não ter lugar pra sentar, nem desconfie! Bom andador de busu gosta mesmo é de um aperto!

- Todas as Vozes -