quarta-feira, agosto 14, 2013

Voz 174 - Meu Começo Feliz



A felicidade muda
Muda como mudam os desejos
Muda como mudam as palavras
Muda como mudam as horas
Dos ponteiros dos relógios


A felicidade grita
Grita por alguém
Grita por si mesma
Grita simplesmente por gritar
Apenas para se sentir viva

A felicidade é muda
Muda de planta, árvore ou flor
Muda que precisa ser regada a cada dia
Com água, sorrisos, seja lá o que for
Quem sabe amor?

A felicidade começa num final feliz
Ou num começo simples
Sem complicação
Sem rótulos
Sem fantasias...


Minha felicidade hoje não é muda
Ela muda a cada dia
É muda de flor que grita por liberdade
Mas liberdade acompanhada.
Acompanhada de um Começo Feliz.


sábado, fevereiro 16, 2013

Voz 173 - Perfeição

Sou a prova mais ou menos viva de que saudade não mata, mas maltrata. Mais ou menos viva, porque não há como sobreviver inteira com as porradas que levamos. Quando falo de porradas, não estou me referindo a falta de dinheiro ou outras coisas (que também doem pra caramba). Estou me referindo às partidas. Às despedidas. Às ausências tão presentes com as quais temos que conviver.

Nenhum pai ou mãe deveria sobreviver para enterrar um filho. Mas o que dizer do filho, que infelizmente tem que enterrar um dos pais, ou ambos? É uma dor que tem nome a orfandade. Uma dor com nome, sobrenome e muitas vezes banalizada como menor.

Com meus pais se foi meu norte. Com meus pais se foi boa parte do que eu julgava verdadeiro. A vida não parou para que eu me refizesse. Minha única opção desde então é seguir. 

Tento reaprender a vida sem a orientação amorosa, sem o castigo seguido de um afago, sem um colo pra chorar as perdas. Tento reaprender o amor sem o amor incondicional, sem a confiança cega, Sem... Tive que aprender o Sem. Tive que aprender a falta. Tive que aprender que a vida é só a vida e que por mais que ela "seja", nunca mais será a mesma.

Tive que aprender que tudo passa e que se um dia houver uma segunda vida depois dessa, tudo terá valido à pena. Mas enquanto não sei se ela realmente existe, nenhuma felicidade será completa. Tive que aprender que o desapego é necessário. Mas ainda não consegui aprender a desapegar.

Meus pais me deram tudo. A vida, o amor, o caráter, a esperança, os objetivos... E como foi tão perfeito, nada chegará um dia a ser completo como minha vida um dia foi.

E a saudade me resta. Me sobra. Me cansa.

Somente ela é eterna. Somente ela continua. Ela é a minha herança. De meus pais, herdei a vida. E da vida, a saudade.

quarta-feira, janeiro 02, 2013

Voz 172 - Feliz Ano Novo!

"Anunciaram e garantiram que o mundo ía se acabar... mas o tal do mundo não se acabou"!


Assim começaria um post sobre o arrependimento por ter feito algo que não deveria e o mundo não ter acabado. Mas não, não fiz nada que não deveria... e talvez esse seja meu arrependimento quando o mundo realmente acabar.
Ou não. 

O fato é que o mundo não acabou, um novo ano começou e junto com ele continuaremos a repetir os mesmos erros. O primeiro deles, como de costume, é imaginar que só porque um ano terminou temos um monte de novas possibilidades (365 possibilidades, como alguns colocaram em formato de posts no facebook). Não. Não temos um monte de possibilidades apenas porque um 12 passou para 13. As possibilidades são sempre as mesmas.

Um outro erro bastante comum é acreditar que deixamos para trás tudo de ruim que aconteceu no ano anterior. Bobagem. Os fatos ruins continuam nos seguindo por toda a nossa vida. O máximo que pode acontecer é que novos fatos vão acontecendo e delegando a esses fatos ruins lugares na memória que são reservados para coisas antigas e não na para coisas recentes. Mas sempre que alguma coisa remeter a esses fatos, eles retornarão com força para nossas vidas.

Então, se não temos novas possibilidades e as coisas ruins nos perseguem, por que comemorar o ano novo?

Por que a Esperança é a última que morre. Somos humanos e como humanos somos teimosos. Insistimos. Persistimos em acreditar que um dia tudo vai dar certo. Nossos pais nos ensinaram isso, nossos avós também e os filmes de Hollywood insistem em nos ensinar. Longe de ser ruim, isso na verdade é uma coisa boa, porque se não temos esperança, nossa vida termina. Nós terminamos. E aí sim, o mundo acaba.

Porém, ter Esperança não é sinônimo de Esperar.

Meu poeta preferido, Carlos Drummond de Andrade, em seu poema "Receita de Ano Novo", diz coisas que realmente para mim fazem sentido. Para ter um Ano Novo "cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,/ Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido/ (mal vivido talvez ou sem sentido)" não precisamos de champanhe, receber ou mandar mensagens, fazer listas de boas intenções, chorar de arrependimento, ou acreditar que as coisas que não foram feitas até dezembro sejam realizadas a partir de janeiro. Não precisamos pular sete ondinhas, comer 12 uvas, brindar ou acender todas as luzes da casa. Para termos um Ano novo cor do arco-íris ou da cor da paz, precisamos merecê-lo. Fazer com que ele aconteça. E para isso não é necessário uma data fixa. São necessários sonhos e vontade/capacidade de realizá-los. 

Como disse Drummond, "É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre".

Então, Feliz Ano Novo de verdade! Seja qual for a data em que você ler esse post, vamos acordar e fazer com que o Ano Novo que dorme dentro de nós finalmente acorde. Finalmente.


Anna Emíllia Meira Soares - SSA, 02/01/2013