sábado, maio 02, 2009

123ª Voz - O Cajueiro


Sempre gostei de quintais. Quando criança eu tinha no quintal de minha casa um lugar mágico. Nele moravam um balanço, uma goiabeira, uma mangueira, um pé de laranja-lima (igual o do livro) e um cajueiro. O cajueiro era meu preferido! Em sua sombra eu armava minha casa, colocava meus brinquedos, revestia o chão de tapetes, almofadas, esteiras, ursos de pelúcia, bonecas, e meus companheiros preferidos: os livros. Em sua sombra viajei pelo Reino das Águas Claras, e fiquei deitada na esperança de sentir a Terra girar em seu movimento de rotação. Na primavera voltava para casa cheia de florzinhas de caju emaranhadas em meu cabelo, e com a camisa cheia de nódoas.

Um belo dia, o cajueiro chegou ao fim de seus dias. Numa noite de tempestade, provavelmente por conta da ventania, ele não resistiu ao peso de seus galhos e foi ao chão. Escondida, eu chorei.
O tempo se encarrega de apagar algumas lembranças, e de deixar outras cada vez mais presentes. Outras ele trata de reavivar. Eu cresci, mudei de cidade, conheci outros lugares, tive momentos de riso, dias de lágrimas...

Em um desses dias de lágrimas, fui levada a um outro Quintal, e a mágica se fez. Me senti transportada para tempos de recordações profundas, de felicidade plena, e de inocência. Sentada nesse Quintal, eu pude ver o céu, senti o cheiro das folhas da mangueira, e por um momento enxerguei por entre elas as lembranças de meu Cajueiro.

Fui despertada de minhas divagações por uma voz e por olhos que pareciam me enxergar de verdade. Meus olhos pareciam conhecer aquele rosto há séculos. Depois de muito tempo senti como se estivesse no lugar certo, com a pessoa certa, no momento exato. E me deixei levar. Não tinha mais volta...

- Todas as Vozes -

2 comentários:

  1. Nossa não sabia q vc tinha blog, achei lindo a texto, me lembrou muita coisa boa também. Parabéns!

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  2. Ia fazer um comentário igualzinho ao anterior, hehehe!
    Lindo, lindo... Eu tinha um pé de carambola, com várias viuvinhas que eu achava por bem dar abrigo, colocando-as em caixas de fósforos...

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LIBEEEEEEERTE-SE