domingo, setembro 23, 2007

Septuagésima Quinta Voz - De prata


Em boca fechada não entra mosca.

Palavras da minha avó.

E ainda:

- O silêncio é de ouro, a palavra é de prata.

Sem os vestidos brilhantes da Berta, ela me ensinou a pilar café lá no sítio. Eu era tão pequena que ela punha um tijolo para dar altura. E segurava o pilão junto comigo. E cantávamos ao mesmo tempo, ritmadas pelo golpe das mãos:


"Pé de pilão,
carne-seca com feijão!"`

Às vezes eu implicava, de pura felicidade.
- Pilamos café e falamos de feijão.Vamos inventar outra?
- Menina inventadeira!
Eu, já às gargalhadas:

"Pé de chulé,
pão, manteiga com café!"

- Mas que menina inventadeira!

Mas ela é que era inventadeira: sexta-feira não podia cortar as unhas porque dava azar, vassou detrás da porta espantava visitas, almas penadas podiam virar vento nas janelas, se a gente olhava demais os brotos novos eles não cresciam, e em certas ocasiões, se a gente falasse, dava quebranto.

- O silêncio é de ouro, a palavra é de prata.

Mesmo assim contou uma história esquisita, que até hoje me dá arrepios:

"Era um homem sozinho, entre as ávores. E ali ficou. Sozinhos, seus olhos se fecharam rente às pedras. Suas mãos esfriaram, sem ninguém, no barro, sobre as folhas secas, perto dos caroços de frutas, das conchas quebradas, das formigas andarilhas. Seu corpo caiu sobre a terra. Sua boca morreu no chão, como fruto."

- Como era o rosto dele?
Eu perguntava cheia de angústia.
- Nunca tirou retrato. Para não morrer.

Também é uma história complicada. Não é só a poesia. Será que o Grande tem razão? E o Cara com aquelas composições...?

- Aos Trancos e Relâmpagos - Vilma Arêas -

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