sábado, fevereiro 16, 2013

Voz 173 - Perfeição

Sou a prova mais ou menos viva de que saudade não mata, mas maltrata. Mais ou menos viva, porque não há como sobreviver inteira com as porradas que levamos. Quando falo de porradas, não estou me referindo a falta de dinheiro ou outras coisas (que também doem pra caramba). Estou me referindo às partidas. Às despedidas. Às ausências tão presentes com as quais temos que conviver.

Nenhum pai ou mãe deveria sobreviver para enterrar um filho. Mas o que dizer do filho, que infelizmente tem que enterrar um dos pais, ou ambos? É uma dor que tem nome a orfandade. Uma dor com nome, sobrenome e muitas vezes banalizada como menor.

Com meus pais se foi meu norte. Com meus pais se foi boa parte do que eu julgava verdadeiro. A vida não parou para que eu me refizesse. Minha única opção desde então é seguir. 

Tento reaprender a vida sem a orientação amorosa, sem o castigo seguido de um afago, sem um colo pra chorar as perdas. Tento reaprender o amor sem o amor incondicional, sem a confiança cega, Sem... Tive que aprender o Sem. Tive que aprender a falta. Tive que aprender que a vida é só a vida e que por mais que ela "seja", nunca mais será a mesma.

Tive que aprender que tudo passa e que se um dia houver uma segunda vida depois dessa, tudo terá valido à pena. Mas enquanto não sei se ela realmente existe, nenhuma felicidade será completa. Tive que aprender que o desapego é necessário. Mas ainda não consegui aprender a desapegar.

Meus pais me deram tudo. A vida, o amor, o caráter, a esperança, os objetivos... E como foi tão perfeito, nada chegará um dia a ser completo como minha vida um dia foi.

E a saudade me resta. Me sobra. Me cansa.

Somente ela é eterna. Somente ela continua. Ela é a minha herança. De meus pais, herdei a vida. E da vida, a saudade.

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