domingo, fevereiro 11, 2007

A Décima Sexta Voz - Como um dia de domingo...

(Imagem retirada do site www.artemaya.com)

Ainda me lembro do cheiro das manhãs de domingo...
Costumava acordar às 6 da manhã. Saía para o quintal e era como se o mundo todo dormisse, e o tempo fosse só meu. Sentia o friozinho bom da madrugada indo embora e o sol nascendo pra trazer luz ao céu. Muitas vezes a lua ainda estava lá para ver de longe o astro-rei. O ar seco do sertão entrava por minhas narinas e fazia com que me sentisse viva.
Depois de algum tempo deitada no chão, ouvia a voz de minha mãe que se levantava. Em pouco tempo a casa inteira recenderia ao cheiro de café. Me lembrava de um texto que lera em um livro: "café com pão, café com pão, café com pão, vixi Maria, que foi isso maquinista? Agora sim, café com pão, agora sim...". Era quando ouvia o apito do trem chegando na estação da cidade, e me transportava para a roça de minha madrinha. Inúmeras vezes quando o trem passava pela frente da casa do sítio, despertava toda a meninada das brincadeiras em que se encontravam para levá-las ao mundo de magia da estrada de ferro... Um dia o maquinista acenara para mim...
Domingo também era dia de missa... a Missa das Crianças... adorava ir à Igreja para brincar na pia batismal, cheia de água benta, e comer pipoca na pracinha em frente... bem... de vez em quando eu gostava também de ouvir as músicas que as pessoas cantavam lá dentro e me divertia tentando decifrar as palavras indecifráveis para os meus 6 anos, que o Monsenhor Antônio Fagundes pronunciava numa velocidade incrível... mas eu gostava de Monsenhor (a parte chata terminava mais rápido)... é... eu gostava de ir à Igreja... um dia até li um texto no microfone...
O almoço de domingo sempre tinha frango assado... eu era pequena, almoçava mais cedo... tinha a sessão de desenhos da Disney... a melodia de "Se uma estrela aparecer"... O Mickey, o Donald, o pé de feijão...
E vinha a tarde de domingo... as buzinas começavam a soar... primeiro o quebra-queixo (esse era para os adultos... eu n gostava daquele negócio duro), depois o algodão-doce (esse era só meu...) e começavam a chegar os primos... Eu era pequena, eu era café-com-leite, e de muitas brincadeiras eu não podia participar, como a tal da salada mista e do balança caixão, que eu nem sabia do que se tratava... mas eu tinha uma prima dois anos mais velha, e a gente ia pra o meu quarto brincar de bonecas e ouvir o Trem da Alegria, a Xuxa e um disco antigo de Celly Campello. Isso a gente podia!
E chegava a hora da Ave-Maria. A luzinha do carrinho de pipoca do velho "Nilo Coelho" (a gente deu esse apelido pra ele) apontava no final da ladeira. Era a hora da pipoca! A meninada toda rodeava o carrinho do seu Nilo... ele contente, a gente mais ainda! Era a melhor pipoca do mundo! Não preciso nem dizer que depois disso ninguém mais jantava, e tome-lhe bronca... mas a gente estava feliz!
O relógio batia a Hora dos Trapalhões... todo mundo, crianças e adultos, reunidos na sala para dar risada com Didi Mocó e sua trupe até começar o Fantástico... hora em que a casa esvaziava. Nessa altura do campeonato eu já estava dormindo na sala, e minha mãe me carregava para a cama se despedindo com um beijo de boa-noite...
Até hoje me lembro do cheiro das manhãs de domingo...
Cheiro que antecipava a paz e a felicidade...
- Todas as Vozes -

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LIBEEEEEEERTE-SE