
Nenhum pai ou mãe deveria sobreviver para enterrar um filho. Mas o que dizer do filho, que infelizmente tem que enterrar um dos pais, ou ambos? É uma dor que tem nome a orfandade. Uma dor com nome, sobrenome e muitas vezes banalizada como menor.
Com meus pais se foi meu norte. Com meus pais se foi boa parte do que eu julgava verdadeiro. A vida não parou para que eu me refizesse. Minha única opção desde então é seguir.
Tento reaprender a vida sem a orientação amorosa, sem o castigo seguido de um afago, sem um colo pra chorar as perdas. Tento reaprender o amor sem o amor incondicional, sem a confiança cega, Sem... Tive que aprender o Sem. Tive que aprender a falta. Tive que aprender que a vida é só a vida e que por mais que ela "seja", nunca mais será a mesma.
Tive que aprender que tudo passa e que se um dia houver uma segunda vida depois dessa, tudo terá valido à pena. Mas enquanto não sei se ela realmente existe, nenhuma felicidade será completa. Tive que aprender que o desapego é necessário. Mas ainda não consegui aprender a desapegar.
Meus pais me deram tudo. A vida, o amor, o caráter, a esperança, os objetivos... E como foi tão perfeito, nada chegará um dia a ser completo como minha vida um dia foi.
E a saudade me resta. Me sobra. Me cansa.
Somente ela é eterna. Somente ela continua. Ela é a minha herança. De meus pais, herdei a vida. E da vida, a saudade.